top of page

Presidente Trump... e Fernando Harb na Conversa no Píer.


Se você tivesse a oportunidade de um contato, mesmo que indireto, com o Presidente Trump, tendo votado ou não no candidato Republicano, concordando ou não com seu modo de instaurar seu governo da maior potência econômica do mundo, você pegaria um avião deslocando em sua agenda várias prioridades? - Eu sei, pergunta longa, mas por favor responda esta curtinha: você iria ao WTM Latin America em São Paulo só para ter esse contato mesmo indireto com o Presidente Trump?

Não foi bem isso que eu fiz, mas conversar com Fernando Harb, vice-presidente de turismo do Bureau de Convenções e Visitantes de Greater Fort Lauderdale, Condado de Broward, no dia da abertura do WTM World Travel Market Latin America em São Paulo, foi o mais perto que consegui chegar do Presidente Trump, até o momento.

Como o negócio é sobre viagens de turismo, vamos dar um giro pelo mundo que é como este evento chegou ao Brasil. Nascido em Londres, em 1980, flanou pela Ásia e Arábias ganhando o mundo com direito a ter seus capítulos anuais inaugurados por mãos tais como a Sua Majestade a Rainha Rania Al-Abdullah da Jordânia. Os primeiros eventos agregavam pouco mais do que 300 expositores, mas há décadas vem crescendo e atraindo dezenas de milhares de empresas do setor e profissionais do ramo, movimentando bilhões de dólares em negócios reais. E que negócios são esses? - Ora, há um stand de um órgão oficial de governo de um destino apetitoso do mundo, o Egito, por exemplo, ou um fornecedor da indústria do turismo, aí você que é um agente de viagens, ou da rede hoteleira ou qualquer outra atração turística senta à frente de um profissional e faz negócios que vão desde atingir cotas de visitantes para àquele destino até promessas de lotar os hotéis de certa região. E isso envolve companhias aéreas, de aluguel de carros e barcos, resorts, clubes e entretenimento de toda sorte, incluindo a gastronomia porque ninguém é de ferro. Eu encontrei Fernando Harb sonhando justamente com isso para o destino Fort Lauderdale. Vamos à nossa conversa:

Não espere um pingue-pongue de perguntas e respostas, pois em uma conversa de uma hora, em meio à efervescência do primeiro dia do evento, não há espaço para divagações; as flechas devem ser certeiras e pontiagudas, errou o alvo, perdeu o assento. Daria, contudo, para encher páginas com a montanha de informações que Fernando generosamente esparramou francamente na mesa, até a pergunta indiscreta se ele “é gay”. Sério. Ele respondeu gentilmente que não é, é por sinal casado com Denise Arencibia, original de Cuba e empreendedora de Turismo, a família vive na Flórida. Mas não perdeu o gancho, pois a pergunta na verdade tinha outro foco: a tendência saudável do público turista gay para Fort Lauderdale.

Fernando foi discorrendo com naturalidade de quem sabe mesmo onde está pisando. A expressão “spring break” (nascida em 1930) se tornou coqueluche por ocasião do filme escrito por George Wells, “Where the boys are” com George Hamilton e Connie Francis, o primeiro filme dirigido ao público adolescente e que abordou a sexualidade da meninada, quebrando tabus e, veja só, cunhando um rótulo para Fort Lauderdale. O de que no verão dos USA, multidões de jovens abandonam as escolas e invadem as praias de Fort Lauderdale. – Bem, hoje a conversa é outra. Aquela multidão existe, mas se espalhou por outros destinos mais agitados; lá em Fort Lauderdale, hoje, vive-se outra tendência, aliás consolidada, dos novos e bons tempos. O segmento economicamente forte dos consumidores de natureza gay e de lésbicas e simpatizantes tornam a cada ano o condado de Broward em um “point” caprichado pelas suas preferências de qualidade e bom gosto. Os hotéis são tão acolhedores quanto convidativos para o bolso, os programas são tão variados quanto coloridos de opções de faixas etárias e gostos, que vão de programas amenos a aventuras. E, Fernando Harb avisa logo: “- não se trata de uma cidade de gays onde quem não é gay fica constrangido de visitar, pelo contrário, não há um rótulo em cada pessoa nas ruas.” Fort Lauderdale é apenas como a bela San Francisco que aos poucos perde seu posto para a cidade na Flórida. Em suma, um dos lugares mais aprazíveis de toda a América.

Leia mais sobre os gays em Fort Lauderdale aqui, na entrevista com Clovis Casemiro, representante brasileiro para a IGTA – International Gay and Lesbian Travel Association, cuja sede é justamente em Fort Lauderdale, e presente em 80 países.

Por que Fort Lauderdale?

Minha primeira pergunta, direto ao ponto, e Fernando Harb fez uma explanação tão convincente quanto precisa, mencionando dados que eu obtivera de relatórios da Price Waterhouse Coopers.

Primeiro, o estoque de quartos de hotéis em Fort Lauderdale aproxima-se rápido de 40 mil. No início de 2016 era 34 mil, recebendo anualmente um incremento perto de 5 % e é espetacular a taxa média de ocupação, ao longo do ano, entre 80% e 70%. Segundo, houve sim um decréscimo do turismo, especialmente de brasileiros (que já chegaram a 500 mil/ano) por conta de razões diversas que vão desde o fenômeno Zika à taxa do dólar. “O brasileiro talvez não queira dizer que vai adiar a viagem à Flórida por causa da taxa do dólar, por que seu bolso ficou um pouquinho mais pobre”, diz Fernando Harb em bom português e com um sorriso bem carioca – porque já viveu e trabalhou na rede Hilton no Rio. Também não é verdade que a questão de mais rigor nas leis e procedimentos de imigração e checagem no “customs” de aeroportos de todo o país tenham provocado uma retração do turismo. “Olha, política e opinião pessoal à parte, vamos falar claramente”, ponderou Fernando ao ser cobrado se as medidas de impacto do Presidente Trump são responsáveis pelo declínio do turismo não só na Flórida, mas em todo os USA. “O rigor da checagem de vistos sempre existiu, e elas vem sendo atualizadas gradualmente, os tempos são outros, o que todos queremos para a nossa indústria é a segurança dos visitantes, o conforto e o desfrute garantidos”. E insistiu ao realçar que os fatores econômicos são mais precisos do que qualquer outro sinal político e social.

Fernando Harb enfatizou que “as oscilações são normais” -- em qualquer segmento de mercado, na verdade. E ele tem mais de uma razão para acreditar nisso, foi mais longe ainda: revelou que a própria direção superior do condado de Broward acaba de investir num sistema totalmente novo e mais amplo de coleta de dados para estatísticas mais precisas para aferir o fluxo de turismo para Fort Lauderdale, com destaque para o público brasileiro. “Queremos saber daqui a um ano, talvez, o quanto pudermos sobre o turista brasileiro, um público antigo nosso, fiel, inclusive há dois pontos em Fort Lauderdale que já começam a ser chamados de Little Brasil, só de brasileiros”, são os casos de Deerfield Beach e Pompano Beach.

Enquanto conversávamos chegava em meu feed de notícias a cruel informação de que um blogueiro conhecido dos brasileiros fora retido pela imigração dos USA, descoberto por estar ilegal no país há 10 anos, porque não comparecera – segundo uma fonte – a uma audiência de multa de trânsito. Outra fonte informa que a razão da prisão do blogueiro teria sido o seu envolvimento numa briga. “Well, well”, coincidência ou não, Fernando Harb havia dito minutos antes que a lei e execução de procedimentos mais rigorosos americanos são para quem tenha cometido delitos. Já conhecemos essa história, a fila anda.

Outra revelação interessante que Fernando compartilhou, foi o fato de, além da companhia aérea Azul manter vôos regulares para Fort Lauderdale, a preços similares aos de Miami, que são convidativos, outras companhias aéreas já conversam com Broward para aterrissar no aeroporto de Hollywood/Fort Lauderdale. A própria American Airlines não é de hoje faz planos para repatriar alguns vôos de seus terminais exclusivos em Miami para Fort Lauderdale.

Mas a melhor razão para o turista típico “família” ou que busca “conforto, preço e variedade” (o velho dilema, leia aqui e saiba como resolver) é a relação de custo dos hotéis de Fort Lauderdale com Miami. Enquanto na cidade mais próxima à Cuba e Key West a média fica em torno de 250 dólares por quarto, em Fort Lauderdale gira em torno de 150 dólares para menos, com a mesma qualidade ou superior, acredite. É tão forte este apelo que no passado o brasileiro ia à Miami e pensava dar um pulinho à Fort Lauderdale; hoje ele vai, fica e curte em Fort Lauderdale as suas várias praias e opções, e dá um pulinho em Miami, vinte minutos de carro. Dá até uma esticada até Key West para alcançar os ventos do Caribe, ou Orlando, por que não?

Ah, sim, sobre o Presidente Trump? Acredite, a conversa se manteve em torno das opções de Fort Lauderdale. Não é para menos, fui perguntar quais as áreas que Fernando Harb é responsável à frente do Turismo do condado de Broward. “Quanto tempo você tem para conversarmos?” - Me devolveu a pergunta. Ele cuida do mundo todo, e, como não pode humanamente estar em todos os lugares o tempo todo, divide com sua equipe a presença em eventos da indústria do turismo no Meio Oeste, na Ásia, na Europa e na América Latina. A Rússia ainda é um lugar pouco explorado, mas está no radar. God bless América!


bottom of page