top of page

Classificação de Hotéis em tempos de Airbnb


A minha sogra (in memorian) tinha uma coleção de adágios que começava, ou encerrava qualquer questão. Ela diria sincopadamente aqui no início: “nada é por acaso”. Então, vamos lá, sobre a classificação de um hotel, em tempos de compartilhamento, disrupção e novidades do gênero Airbnb, Uber e BoatSetter:

Você lê “hotel cinco estrelas” e já sabe que se trata de um bom hotel. Nem sempre, ou, pelo menos, isso não lhe garante como sejam as acomodações e o serviço desse hotel. O que dizer de um “Superior First Class”, talvez você pense que seja o máximo, o topo, o melhor, mais luxuoso, e mais caro... Mas não é.

Para um breve entretenimento, acerca deste assunto, consultei quatro fontes distintas: a UNWTO – Organização Mundial do Turismo das Nações Unidas; a biografia de Conrad Hilton, criador da cadeia Hilton, incluindo o fabuloso Waldorf-Astoria de New York e o primeiro a utilizar a denominação cinco estrelas, ou quatro, três, duas... Consultei ainda dois “papers” acadêmicos, contactei a própria autora de um deles, a Dra. Roberta Minazzi, PhD da Universidade de Insubria, Itália, sobre o seu trabalho “Hotel Classification Systems: A Comparison of International Case Studies” (Sistemas de Classificação de Hotéis: Uma Comparação de Estudos de Casos).

Conversar sobre isso ao planejar uma viagem dos sonhos, seria uma delícia; no cockpit de um barco então. Escolha o lugar.

Segundo a Dra. Roberta, e é fácil concordar com ela, que é ecoada pela UNWTO e todas as demais fontes, devido à complexidade da cadeia produtiva de hospitalidade – na qual se insere a rede hoteleira –, devido ainda as diferenças culturais de país para país, mesmo entre vizinhos fronteiriços e, por último ao fato de não haver no mundo uma classificação oficial padrão universal, a práxis fica a critério regional de entidades de classe corporativas.

Foi a partir do início dos anos 1900, que surgiu a primeira iniciativa de dar nome aos bois, isto é, hierarquizar os hotéis segundo suas categorias, desde as acomodações aos serviços. Interessante lembrar que Conrad Hilton, o criador das “estrelas”, era filho do dono de um armazém na divisa do México com os EUA, e seu pai alugava alguns quartos nos fundos do estabelecimento. Ali ele foi picado pelo mosquito do ramo, e começou um império. Num futuro mais próximo de nós surgiram organismos da iniciativa privada, por exemplo web sites dedicados ao turismo, cito o TripAdvisor, que começaram a atribuir níveis de classificação aos hotéis, observe-se, filiados de algum modo (i.e. pagamento para afiliação, informalmente, sob monitoramento ou não; como saber?).

Nesse cenário, comparar um hotel 5 estrelas da Europa com um do mesmo nível nos Estados Unidos fica difícil. Na Europa talvez você entre no quarto e tenha um bouquet de flores na cama, com um belo souvenir, impensável na terra do Tio Sam. As diversidades são inumeráveis, inseridas em contextos culturais e econômicos.

A regra óbvia é que as mais baixas classificações devem pelo menos sinalizar preço baixo; a classificação mais alta, provavelmente mais cara, deve sinalizar tudo impecável, e será imperdoável qualquer deslize. E as intermediárias?

Lembra da música “Cruising´” the Smokey Robinson? "away from here"... Vamos às classificações usuais e suas peculiaridades em relação umas às outras: Nos Estados Unidos o símbolo AAA Approved da American Automobile Association, Inc diz tudo em forma de “Diamonds”, um diamante, dois diamantes, assim por diante... Em 16 países da Europa, daquelas línguas que nós Latinos não conseguimos pronunciar uma única palavra, a Hotrec, reunião de associações hoteleiras desses países, utilizam o sistema de 1 a 5 estrelas. Pulando para a França, nos deparamos com o seu próprio jeito de classificar os hotéis que começa com uma estrela vermelha até quatro, nos de cinco as estrelas são douradas e há a classificação Palace, que são o crème de la crème. Já na Itália, como você deve saber, diverge-se em tudo; os italianos do norte, por exemplo, juram que sua comida é melhor do que a dos sicilianos e vice-versa, assim como um café “al volo” (rápido, em pé) é motivo para uma bela discussão; na classificação dos hotéis é a mesma conversa; utilizam o sistema de 5 estrelas, mas cada cidade tem o seu próprio critério de avaliação, então não espere um hotel 5 estrelas de Venice com as mesmas características de um de Cinque Terre.

Agora, aqui no bom português, os ingleses estão de sacanagem. O novo sistema britânico, a partir de 2011, arrochou os critérios de avaliação e literalmente esquartejou, a la Jack o estripador, as classificações em áreas de cada estabelecimento, desde estalagens a acomodações de realezas, a gente tem que ficar com um olho no padre e outro na missa, assim oh:

Mas, “dont´get confused”, pelo menos sozinho(a). Minha cara, meu caro, até a Comissão da União Européia (de onde colhi um documento atual massudo sobre o assunto) encarregada de explicar os 29 sistemas de classificação existentes entre seus membros não sabe quem é quem nesta Guerra do Paraguai.

Isto posto, vejamos alguns aspectos óbvios dissecados desta enorme pendenga: quanto aos objetivos das classificações e sua aplicação enquanto cada uma for válida para cada hotel (até que ele seja reavaliado).

Leve em consideração que há um futuro hóspede, o principal alvo da classificação; há o profissional talvez mais dinâmico da cadeia, o agente ou operador de viagens que estará atento à qualidade comparativa das opções de hospitalidade, e há os profissionais que trabalham nos hotéis (que seguirão padrões de comportamento e capacidade técnica), por fim há as demandas de marketing e eventualmente alguma ingerência fiscal do Estado que impacta o negócio hoteleiro.

Vamos assumir que o sistema Estrelas seja o mais razoável:

• 5-Star: hotel luxuoso, oferece o mais alto grau de serviço. Com elegância e estilo, os quartos são equipados com cobertas de qualidade, VCR, CD stereo, jacuzzi e vídeo. Possui múltiplos restaurantes com menus gourmets, invariavelmente também classificados, por exemplo, segundo o Guia Michelin nascido em 1900, na França. Mantém serviço de quarto 24 horas. E academia de ginástica, valet para estacionamento e serviço de concierge, para completar. Mas esteja atento, há hotéis 5 estrelas que são inferiores a um hotel classificado Deluxe, e há o hotel classificado de Superior First Class, que não deve estar necessariamente na faixa de preço e padrão de um Deluxe, embora seja um 5 estrelas, ou 5 diamond. Definitivamente, a classificação Deluxe é a maior, até prova em contrário.

• 4-Star: formal, hotel de grande porte, com serviço de alto padrão. Normalmente, há hotéis de mesmo calibre por perto, assim como shopping de grifes, gastronomia e entretenimento. Serviço acima da média, apartamento com mobiliário modernoso, ou com algum requinte, serviço de quarto, mais de um restaurante, valet e fitness center, por fim, concierge e amenidades extras.

• 3-Star: frequentemente, localizado próximo de freeways, centro de negócios e área de shopping, não necessariamente de grife. Este hotel oferece quartos espaços razoáveis e lobbies aprazíveis. Um restaurante com breakfast, almoço e jantar. Não garantido, mas poderá oferecer valet, serviço de quarto em horários limitados, pequeno fitness center, e piscina.

• 2-Star: geralmente pertence a uma cadeia padronizada, apresentação e serviço, com limitadas amenidades. Pequeno porte e os quartos possuem telefone e TV. Bem provável não oferece serviço de quarto, mas haverá um restaurante e máquinas de venda no local.

• 1-Star: espere um hotel pequeno administrado pelo próprio dono. A atmosfera será típica e personificada e terá acomodações básicas. Restaurantes nas proximidades assim como transporte público, por fim, o preço baixo em relação a todos os demais.

Uma última palavra, contudo sem encerrar o assunto, nem de longe, lembre que viajar é sonhar enquanto você transporta o seu próprio modus vivendi ou tenta se desfazer do mesmo temporariamente. Tudo aquilo que você tem à mão em sua vida diária (do secador de cabelo à torradeira, do guarda-chuva à bicicleta) ou não possui e espera desfrutar, poderá ter ou não ter naquele 5 Estrelas e você só saberá chegando lá, ligando antes para a recepção ou consultando previamente um “Personal Travel”, por exemplo. Que bicho é este? Depois de saber você não vai querer sair de casa sem um. LEIA AQUI>>>


bottom of page